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Leonardo Boff: 'Lula não é um político preso, é um preso político'

Teólogo atribui prisão a uma reação de quem nunca aceitou "que os de baixo subissem um degrau". "Vemos o nível de degradação ética e espiritual a que chegou essa elite do atraso"

 

São Paulo – O teólogo Leonardo Boff criticou a decisão da juíza Carolina Lebbos, da 12ª Vara Federal de Curitiba, de impedi-lo, junto com o ativista e Prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, de realizar uma visita ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"A decisão dela é a expressão do Estado de exceção que estamos vivendo. A argumentação é muito pífia, ela diz que Esquivel estava de passagem e a Lei Mandela, que ela diz não desprezar, tem que ser interpretada segundo cada país, deve ser lida e ponderada e não tem caráter absoluto", apontou, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria na Rádio Brasil Atual.

"Ela não se dá conta, por isso é um espírito pequeno, da magnitude de um Prêmio Nobel da Paz com 87 anos, que tem entrado nas prisões do mundo inteiro, já que é um grande promotor dos direitos humanos. Em todos os países, mesmo os mais rígidos, sempre encontrou as portas abertas."

Boff conta que foi a Curitiba tentar visitar o ex-presidente em função de uma missão religiosa, na qual pretendia levar dois livros de cunho espiritual a Lula. Mas foi impedido. "Conversei com os policiais que diziam 'temos ordens de cima'. Não pude deixar uma carta nem me deixaram entrar no espaço", contou.

O teólogo relatou ainda as dificuldades que teve para se locomover até o lugar em que esperou por uma resolução para saber se poderia ou não realizar a visita. "Tenho problema no joelho, quatro próteses, e era uma subida. O carro podia me levar até lá em cima e retornar, mas não deixaram o carro entrar. Pedi: 'não posso andar, tenho dificuldades, o senhor faz esse favor?'. 'Ordens de cima, não passa carro nenhum'. Até brinquei: 'então o senhor me leva nas costas?'. E tive que subir me arrastando."

Para Leonardo Boff, a prisão do ex-presidente não tem fundamento jurídico. "Lula não é um político preso, é um preso político. (Sua prisão) Não é consequência de um ato judicial, mas de um ato político, querem impedir a candidatura dele, liquidar com o partido. São as velhas elites do atraso que nunca aceitaram um operário ocupar a presidência da República. Nunca aceitaram que os de baixo subissem um degrau", pontuou.

"E o pior de tudo, que acho grave por que não é da tradição brasileira, o ódio, o desprezo que devotaram aos escravos, transferiram a esses da periferia que são pobres. Como diz Jessé de Souza, não só os marginalizam e humilham, querem tirar deles a dignidade de nem mais sentir-se cidadãos e pessoas humanas. Isso é de uma perversidade iníqua que ofende qualquer sentimento humanitário. Vemos o nível de degradação ética e espiritual a que chegou essa elite do atraso."

Boff disse que, de acordo com pessoas que estiveram com o ex-presidente, ele está tranquilo. "Conversei com gente que esteve com ele e disseram que está com ânimo alto porque manteve a mesma rotina que tinha fora. Faz as duas horas de ginástica, dorme o que tem que dormir, guarda os ritos que fazia, lê muito, está profundamente tranquilo."

Ele também destacou o clima do acampamento Lula Livre, ressaltando não apenas a presença de quem está acampado no local mas também a grande circulação de pessoas de fora. "Para surpresa minha, percebi uma grande alegria no povo, de estarem juntos, ter a mesma causa", falou. "Lembro uma frase do (Emiliano) Zapata, grande libertador, revolucionário do México: se o Estado comete injustiças contra o povo, o povo tem direito de não dar paz ao governo."

Esquivel volta sem resposta

Adolfo Pérez Esquivel também participou da conversa com Boff por telefone. A caminho do aeroporto de Curitiba para retornar a Buenos Aires, ele concordou com Boff a respeito da condição do ex-presidente. "Para mim, Lula é um preso político que tratam de evitar que dispute a eleição. Isso é grave para a democracia, não só do Brasil mas de toda a América Latina, porque a mesma metodologia já foi usada em outros países como Honduras, Paraguai e Haiti. E por isso digo que o Brasil vive um Estado de exceção", afirmou.

"Temos que trabalhar a acompanhá-lo e a todo povo do Brasil. Acompanhar Lula é acompanhar o povo mais necessitado", completou. De acordo com a advogada Tânia Mandarino, o argentino viajou sem ter resposta de seu primeiro pedido de visita (que não era baseado na Lei Mandela. “Esquivel foi embora do Brasil sem receber a prestação jurisdicional como requerida no início da semana com a prioridade especial  devida a um idoso de 87 anos, como assegura a lei brasileira”, argumentou a advogada.

Ontem, Tânia afirmou ter visto componentes de sadismo na conduta da juíza. "Absurdo dos absurdos, quando a juíza apreciou primeiro o pedido que foi posto depois, opusemos embargos de declaração pedindo que antecipasse o pedido de visita. Ela só respondeu sadicamente os embargos e não comentou sobre o pedido de visitas. Disse que não há urgência e, resumindo, 'problema do Esquivel se ele está só de passagem'."

Fonte: redebrasilatual

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